por Frank Shostak
(traduzido por Flávio Ghetti)
Poupança não tem nada a ver com dinheiro. Por exemplo, se um padeiro produz dez fôrmas de pão e consome uma fôrma, sua poupança é de nove fôrmas de pão. Em outras palavras, a “poupança” neste caso é a renda real (sua produção de pão) menos a quantidade de pão que o padeiro consumiu. A poupança do padeiro permite agora que ele obtenha outros bens e serviços.
Por exemplo, o padeiro pode agora trocar os pães poupados por um par de sapatos com um sapateiro. Note que a poupança do padeiro é seu meio de pagamento real – ele paga pelos sapatos com os pães poupados. Do mesmo modo, o sapateiro paga pelas nove fôrmas de pão com os sapatos que representam sua poupança real.
O que é poupança?
A introdução do dinheiro não altera o que temos dito até agora. Quando um padeiro troca seus pães por dinheiro com um sapateiro, ele supre o sapateiro com o pão não consumido, ou seja, poupado. O suprimento de pães sustenta o padeiro e permite que ele continue produzindo sapatos. Note que o dinheiro recebido pelo padeiro é totalmente oriundo de sua produção não consumida de pães.
Note ainda que sem o meio de troca, isto é, o dinheiro, nenhuma economia de mercado, e consequentemente, nenhuma divisão do trabalho poderia ocorrer. O dinheiro permite que os bens de um especialista possam ser trocados pelos bens de outro especialista. Em resumo, através do dinheiro as pessoas podem entregar poupança real, o que por sua vez permite a ampliação do processo real de geração de riqueza.
E ainda, num mundo sem dinheiro seria impossível poupar diversos bens finais, como bens perecíveis, por um período de tempo longo. Então a introdução do dinheiro resolve o problema. Em vez de estocar pães, o padeiro pode agora trocar seus pães por dinheiro.
Em outras palavras, sua produção de pães não consumida agora está “estocada”, por assim dizer, em dinheiro. Há, entretanto, uma ressalva a tudo isto: que a produção de bens e serviços seja contínua. Isto significa que sempre que um proprietário de dinheiro decida trocar algum dinheiro por bens, haja bens disponíveis.
Possuir dinheiro não é igual a possuir poupança
O dinheiro pode ser visto como um recibo, como se fosse dado aos produtores de bens e serviços finais, aqueles bens e serviços que estão prontos para o consumo. Então, quando o padeiro troca seu dinheiro por maçãs, ele de fato já pagou por elas com o pão produzido e poupado antes da troca. O dinheiro, portanto, é um título que representa a poupança real. Não é, contudo, a poupança.
Agora, e a respeito da situação em que o dinheiro é utilizado para compra de material não processado, o material não processado é poupança real? A resposta é não. O material bruto deve ser processado e convertido em uma peça de equipamento, o qual por sua vez pode ser empregado na produção de bens e serviços finais que estão prontos para o consumo humano. Neste sentido, o comprador de material não processado transfere seu título de poupança real ao vendedor de material em troca da expectativa de que o material transformado, em um momento no futuro, produza benefícios que superem os custos incorridos.
Além do mais, o comprador de material também compra tempo (isto é, por ter o material prontamente disponível, ele pode imediatamente desenvolver os estágios de produção do equipamento final). Se o material não estivesse disponível ele teria que extraí-lo, o que é claro, atrasaria a produção do equipamento final.
Uma vez que poupança real é trocada por dinheiro, o recebedor do dinheiro pode exercer sua demanda por dinheiro de diversas maneiras. Isto, entretanto, não terá efeito no conjunto da poupança real existente.
Um indivíduo pode exercer sua demanda por dinheiro guardando-o em seu bolso, ou em sua casa, ou pode depositá-lo sob a custódia de um banco, ou mesmo num cofre.
Além disso, se ele o utiliza imediatamente na troca por outros bens, ou o empresta, ou guarda debaixo do colchão, isto não altera o conjunto dado de poupança real. Então, ao guardar dinheiro debaixo do colchão, um indivíduo não está engajado no ato de poupar. Ele está apenas exercendo sua demanda por dinheiro. O que os indivíduos fazem com o dinheiro não pode alterar o fato de que poupança real já está financiando uma atividade em particular. Se os indivíduos decidem manter o dinheiro ou emprestá-lo, altera sua própria demanda por dinheiro, mas isto não tem nada a ver com poupança.
Sempre que um indivíduo empresta parte de seu dinheiro, ele de fato transfere seu título de bens reais para um devedor. Emprestando dinheiro, o indivíduo de fato diminuiu a demanda por dinheiro. Note que o ato de emprestar dinheiro (isto é, transferir o direito) não altera o conjunto de poupança real existente. Da mesma forma, se um proprietário de dinheiro decide comprar um ativo financeiro, como um título de dívida (bond) ou ação, ele simplesmente transfere seu direito em poupança real para o vendedor de ativos financeiros. A poupança real presente não é afetada como resultado destas transações.
Como a expansão da oferta de dinheiro afeta a poupança?
Agora examinemos o efeito da expansão monetária no conjunto de poupança real. Uma vez que a oferta expandida de dinheiro nunca foi realmente ganha, ela não é sustentada por bens e serviços, por assim dizer. Quando tal dinheiro é trocado por bens, na verdade ele representa um consumo que não é sustentado pela produção. Consequentemente um proprietário de dinheiro honesto, (isto é, um indivíduo que produziu riqueza real), que deseje exercer seu direito de adquirir bens, descobre que não pode obter de volta todos os bens que ele previamente produziu e trocou por dinheiro.
Em resumo, ele descobre que o poder de compra de seu dinheiro reduziu-se – ele de fato foi roubado por meio de uma política monetária frouxa. A impressão de dinheiro, portanto, não pode resultar em mais poupança como sugerido pelos economistas mainstream, mas antes em sua redistribuição. Isto, no processo, debilita os geradores de riqueza, diminuindo deste modo, com o tempo, o conjunto de poupança real. Logo, qualquer propalado crescimento, num cenário de política monetária frouxa, pode apenas ser creditado a um setor privado que consegue incrementar o conjunto de poupança real a despeito dos efeitos negativos da política monetária frouxa.
Podemos então concluir que poupança não diz respeito a dinheiro como tal, mas a bens e serviços finais que sustentam diversos indivíduos que estão engajados nos vários estágios da produção. Não é o dinheiro que financia a atividade econômica, mas o fluxo de consumo final de bens e serviços. A existência do dinheiro apenas facilita o fluxo da coisa real.
---
Publicado originalmente no Mises Institute.
(traduzido por Flávio Ghetti)
Poupança não tem nada a ver com dinheiro. Por exemplo, se um padeiro produz dez fôrmas de pão e consome uma fôrma, sua poupança é de nove fôrmas de pão. Em outras palavras, a “poupança” neste caso é a renda real (sua produção de pão) menos a quantidade de pão que o padeiro consumiu. A poupança do padeiro permite agora que ele obtenha outros bens e serviços.
Por exemplo, o padeiro pode agora trocar os pães poupados por um par de sapatos com um sapateiro. Note que a poupança do padeiro é seu meio de pagamento real – ele paga pelos sapatos com os pães poupados. Do mesmo modo, o sapateiro paga pelas nove fôrmas de pão com os sapatos que representam sua poupança real.
O que é poupança?
A introdução do dinheiro não altera o que temos dito até agora. Quando um padeiro troca seus pães por dinheiro com um sapateiro, ele supre o sapateiro com o pão não consumido, ou seja, poupado. O suprimento de pães sustenta o padeiro e permite que ele continue produzindo sapatos. Note que o dinheiro recebido pelo padeiro é totalmente oriundo de sua produção não consumida de pães.
Note ainda que sem o meio de troca, isto é, o dinheiro, nenhuma economia de mercado, e consequentemente, nenhuma divisão do trabalho poderia ocorrer. O dinheiro permite que os bens de um especialista possam ser trocados pelos bens de outro especialista. Em resumo, através do dinheiro as pessoas podem entregar poupança real, o que por sua vez permite a ampliação do processo real de geração de riqueza.
E ainda, num mundo sem dinheiro seria impossível poupar diversos bens finais, como bens perecíveis, por um período de tempo longo. Então a introdução do dinheiro resolve o problema. Em vez de estocar pães, o padeiro pode agora trocar seus pães por dinheiro.
Em outras palavras, sua produção de pães não consumida agora está “estocada”, por assim dizer, em dinheiro. Há, entretanto, uma ressalva a tudo isto: que a produção de bens e serviços seja contínua. Isto significa que sempre que um proprietário de dinheiro decida trocar algum dinheiro por bens, haja bens disponíveis.
Possuir dinheiro não é igual a possuir poupança
O dinheiro pode ser visto como um recibo, como se fosse dado aos produtores de bens e serviços finais, aqueles bens e serviços que estão prontos para o consumo. Então, quando o padeiro troca seu dinheiro por maçãs, ele de fato já pagou por elas com o pão produzido e poupado antes da troca. O dinheiro, portanto, é um título que representa a poupança real. Não é, contudo, a poupança.
Agora, e a respeito da situação em que o dinheiro é utilizado para compra de material não processado, o material não processado é poupança real? A resposta é não. O material bruto deve ser processado e convertido em uma peça de equipamento, o qual por sua vez pode ser empregado na produção de bens e serviços finais que estão prontos para o consumo humano. Neste sentido, o comprador de material não processado transfere seu título de poupança real ao vendedor de material em troca da expectativa de que o material transformado, em um momento no futuro, produza benefícios que superem os custos incorridos.
Além do mais, o comprador de material também compra tempo (isto é, por ter o material prontamente disponível, ele pode imediatamente desenvolver os estágios de produção do equipamento final). Se o material não estivesse disponível ele teria que extraí-lo, o que é claro, atrasaria a produção do equipamento final.
Uma vez que poupança real é trocada por dinheiro, o recebedor do dinheiro pode exercer sua demanda por dinheiro de diversas maneiras. Isto, entretanto, não terá efeito no conjunto da poupança real existente.
Um indivíduo pode exercer sua demanda por dinheiro guardando-o em seu bolso, ou em sua casa, ou pode depositá-lo sob a custódia de um banco, ou mesmo num cofre.
Além disso, se ele o utiliza imediatamente na troca por outros bens, ou o empresta, ou guarda debaixo do colchão, isto não altera o conjunto dado de poupança real. Então, ao guardar dinheiro debaixo do colchão, um indivíduo não está engajado no ato de poupar. Ele está apenas exercendo sua demanda por dinheiro. O que os indivíduos fazem com o dinheiro não pode alterar o fato de que poupança real já está financiando uma atividade em particular. Se os indivíduos decidem manter o dinheiro ou emprestá-lo, altera sua própria demanda por dinheiro, mas isto não tem nada a ver com poupança.
Sempre que um indivíduo empresta parte de seu dinheiro, ele de fato transfere seu título de bens reais para um devedor. Emprestando dinheiro, o indivíduo de fato diminuiu a demanda por dinheiro. Note que o ato de emprestar dinheiro (isto é, transferir o direito) não altera o conjunto de poupança real existente. Da mesma forma, se um proprietário de dinheiro decide comprar um ativo financeiro, como um título de dívida (bond) ou ação, ele simplesmente transfere seu direito em poupança real para o vendedor de ativos financeiros. A poupança real presente não é afetada como resultado destas transações.
Como a expansão da oferta de dinheiro afeta a poupança?
Agora examinemos o efeito da expansão monetária no conjunto de poupança real. Uma vez que a oferta expandida de dinheiro nunca foi realmente ganha, ela não é sustentada por bens e serviços, por assim dizer. Quando tal dinheiro é trocado por bens, na verdade ele representa um consumo que não é sustentado pela produção. Consequentemente um proprietário de dinheiro honesto, (isto é, um indivíduo que produziu riqueza real), que deseje exercer seu direito de adquirir bens, descobre que não pode obter de volta todos os bens que ele previamente produziu e trocou por dinheiro.
Em resumo, ele descobre que o poder de compra de seu dinheiro reduziu-se – ele de fato foi roubado por meio de uma política monetária frouxa. A impressão de dinheiro, portanto, não pode resultar em mais poupança como sugerido pelos economistas mainstream, mas antes em sua redistribuição. Isto, no processo, debilita os geradores de riqueza, diminuindo deste modo, com o tempo, o conjunto de poupança real. Logo, qualquer propalado crescimento, num cenário de política monetária frouxa, pode apenas ser creditado a um setor privado que consegue incrementar o conjunto de poupança real a despeito dos efeitos negativos da política monetária frouxa.
Podemos então concluir que poupança não diz respeito a dinheiro como tal, mas a bens e serviços finais que sustentam diversos indivíduos que estão engajados nos vários estágios da produção. Não é o dinheiro que financia a atividade econômica, mas o fluxo de consumo final de bens e serviços. A existência do dinheiro apenas facilita o fluxo da coisa real.
---
Publicado originalmente no Mises Institute.
Comentários
Postar um comentário